COMO A MAÇONARIA É VISTA PELA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA?




MAÇONARIA, HISTORIADORES E HISTORIOGRAFIA NO BRASIL

Antes de tecer algumas considerações sobre isso, concerne considerar os seguintes dados históricos: 

1) os fundadores do Império do Brasil (D. Pedro, José Bonifácio e outros) eram maçons; 

2) a maioria dos ocupantes dos mais altos cargos administrativos do Império eram maçons; 

3) todas as revoltas e movimentos separatistas antes e depois de 1822 foram conduzidos por maçons; 

4) a narrativa do discurso da Independência foi urdida por maçons; 

5) a imensa maioria dos jornais e periódicos do Brasil era de maçons; 

6) o fundador da Imprensa nacional Hipólito José da Costa era maçon e consabido conspirador e revolucionário; 

7) a maioria dos Presidentes da República do Brasil foram maçons. Apesar disso, dizem que não existe nenhuma relação ou influência direta da maçonaria na história do Brasil. 


Uma curiosa situação essa, aonde os membros são da maçonaria, mas, a maçonaria não está envolvida na história do Brasil. 


um paralelo a essa narrativa de negativa de participação e de responsabilidade, temos nos dias atuais os dados apresentados pela Lava-Jato comprovando o maior esquema criminal do mundo envolvendo políticos dos partidos do PT/PSDB/PMDB e, não só, mostrando que o dinheiro da corrupção vai para os cofres dos partidos. Apesar disso, os partidos dizem que não estão envolvidos neste esquema. Essa é a lógica aplicada a influência nefasta da maçonaria na história, na cultura e na política do Brasil desde 1822: negar o fato contra todos os fatos.


Na contramão desse escamoetamento, o século XVIII e XIX está repleto de bibliografia sobre a atuação da maçonaria, tanto em Portugal quanto no Brasil. 


A maior parte das obras sobre a maçonaria foram escritas por maçons. 


Os testemunhos históricos de contemporâneos e as obras dos primeiros historiadores atestam que era praticamente impossível encontrar um político que não fosse maçon ou estivesse ligado a essa sociedade secreta. 


Os historiadores dos séculos XVIII-XIX reconhecem a maçonaria como uma instituição umbilicalmente ligada aos movimentos políticos e revolucionários de seu tempo.


Os historiadores do século XX não negam isso plenamente, mas, minimizam ao ponto de fazer desaparecer o caráter revolucionário da maçonaria mundo afora e sua influência dos destinos do ocidente.


Eles vão na contramão destes relatos do século XVIII-XIX esvaziando a visibilidade da maçonaria como um todo além de destituir os personagens históricos da sua identidade maçônica. 


Em suma, os historiadores do século XX lançam um anátema sobre a maçonaria, um véu de silêncio que se mantém hegemônico até os dias atuais. Esparsas publicações nacionais tem buscado e apresentado novos rumos descortinando cenários da história nacional até o momento tidos como “obscuros” ou “inexistentes”. 


O “desinteresse” pela maçonaria e pela sua atuação na história do Brasil é deveras instigante e chamativo. 


Tamanho “silêncio” deve guardar razões nefastas e, guarda.


No tocante a esses estudos, concerne considerar 4 historiadores fundamentais: 

Adolfo Varnhagen, Oliveira Lima, Caio Prado Jr. e Sérgio B. Holanda. Para os dois primeiros, a maçonaria tem papel de destaque no Império e República, muito embora trabalhem sobre o tema de modo completamente distinto um do outro. 


Os dois segundos foram, exatamente, os historiadores responsáveis por lançar o véu do silêncio e da perda da identidade maçônica dos políticos brasileiros, jogando uma capa de invisibilidade nas ações da maçonaria. Especificamente, Sérgio B. de Holanda foi o responsável por fazer assentar a falsa ideia do declínio da maçonaria e sua consequente substituição pelo positivismo.


Por sua vez, os quatro historiadores restringiram a atuação da maçonaria somente na relação Estado-política e quase nada avançaram no quesito financeiro, distorcendo a base do Poder afirmando que toda a corrupção está no Estado e, com isso, isentaram o esquema financeiro de corrupção e com ele, a maçonaria. 


É consabido que a admissão de um membro na maçonaria (no mundo inteiro) privilegiava dentre todas 2 condições essenciais: que fosse um homem “respeitável” e de posses suficientes para financiar a rede de negócios maçônicas. 


Portanto, desde o início, a maçonaria nasce vocacionada e dirigida para um projeto cosmopolita de construção e consolidação de uma “rede de negócios” entre os “Irmãos” cuja atuação envolvia o mercado financeiro e o comércio estabelecendo relações de influência com políticos, empresários, os intelectuais e o Estado. 


Tais aspectos ou não são considerados ou são minimizados pela maioria dos autores nacionais, embora o cariz de “negócios” para admissão à maçonaria seja um ponto incontornável, vital e documentado. 


Há pesquisas sobre isso em curso, mas, muito escassas.


Some-se a isso, a construção de uma “ideia de Brasil” realizada por Gilberto Freyre partir da década de 1933. Ele constrói a ideia de que o Brasil veio de Portugal, mas, de que modo? 


Enfocando escravismo, patrimonialismo, elites corruptas e subordinadas ao poder Real, instituições decadentes da Coroa, etc. 


Essa construção de Freyre é uma mentira. 


Jessé Souza (in: A elite do atraso:da escravidão à Lava Jato; Max Weber e a ideologia do atraso brasileiro) 

Ao analisar as produções de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro e Simon Schwartzman, autores centrais nessa “ideia de Brasil” construída por Freyre tem lançado discussões interessantes acerca de um novo paradigma sobre os conceitos de patrimonialismo, de elite, de atraso, etc, com críticas contundentes tanto à esquerda quanto à direita, deitando por terra a teoria que esses autores consolidaram relativa a Portugal e ao patrimonialismo. 


Ocorre que esta “ideia de Brasil” lançada por Freyre em 1933 assentou-se na USP e de lá para cá ela tem sido sistematicamente difundida e consolidada pelo país inteiro. 


A hegemonia desse pensamento defende que a origem dos males do subdesenvolvimento do Brasil é devido a Coroa Portuguesa, tolice abissal proferida pelo Gen. Mourão numa palestra na maçonaria em 2017 e recentemente defendida pelo mesmo no Rio Grande do Sul já na condição de candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro.



Dentre estes, Sérgio B. de Holanda e Caio Prado Jr. são os grandes responsáveis pelo véu de silêncio que se impôs sobre os crimes da maçonaria permitindo-a continuar na execução dos seus projetos liberada dos crimes que cometeu contra Portugal, o maior Império cristão do mundo de então.


Os maçons foram os grandes defensores e divulgadores do atraso cultural, político, econômico e religioso da Coroa Portuguesa, motivados pela razão de a Coroa Portuguesa, dentro do cenário europeu, ser praticamente a única que não admitia a presença dessa sociedade revolucionária, anti-cristã e anti-monárquica dentro do país. 


A campanha de difamação contra a Coroa e o Império Português foi sem precedentes. 


Juntou côro às ações da maçonaria as mentiras infamantes do maçon carbonário José Bonifácio e do Príncipe Regente D. Pedro que inventaram a tese do Brasil colónia de Portugal.


Todo esse quadro compõe um cenário geral contra a Coroa Portuguesa e, ao mesmo tempo, favorável à maçonaria e ao liberalismo.

O desconhecimento acerca da história do Brasil, bem como da Coroa Portuguesa, deve-se, em grande parte, a esses historiadores, maçons ou não, comprometidos com uma visão historiográfica liberal-revolucionária que surgiu a partir do século XIX norteando até os dias de hoje as concepções da participação e influência da maçonaria na história do Brasil.



Loryel Rocha IMUB
Filósofo, pesquisador em Cultura Oral e Simbólica Tradicional Luso-Afro-Brasileira. Presidente do IMUB www.imub.org.


















  

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